PUB

Parkinson: Exercício físico pode prevenir e minimizar sintomas?

A doença de Parkinson pode ser incapacitante para muitas pessoas. No entanto, a prática de exercício físico tem sido apontada como uma estratégia que pode ajudar a retardar os avanços da doença. No Dia Mundial da Doença de Parkinson, analisamos o que a ciência sabe sobre a inclusão de atividade física como tratamento adjuvante desta condição neurológica degenerativa.

11 Abr 2024 - 10:03
verdade

Parkinson: Exercício físico pode prevenir e minimizar sintomas?

A doença de Parkinson pode ser incapacitante para muitas pessoas. No entanto, a prática de exercício físico tem sido apontada como uma estratégia que pode ajudar a retardar os avanços da doença. No Dia Mundial da Doença de Parkinson, analisamos o que a ciência sabe sobre a inclusão de atividade física como tratamento adjuvante desta condição neurológica degenerativa.

A doença de Parkinson é uma condição degenerativa que afeta parte do cérebro e tem impacto nos movimentos e na capacidade cognitiva dos pacientes. Conhecida por provocar tremores (um dos sintomas mais comuns da doença), esta doença está associada a elevadas taxas de incapacidade e necessidade de cuidados continuados. 

Apesar de não se saber a causa para o aparecimento de Parkinson, sabe-se que existem fatores de risco, tais como o histórico familiar e a exposição a ar poluído, a pesticidas e a solventes. Mas será que o exercício físico pode ajudar a prevenir o aparecimento de Parkinson e a atrasar o avanço da doença?

A prática de exercício físico ajuda a atrasar sintomas de Parkinson?

parkinson exercício físico tratamento

Em declarações ao Viral, Joaquim Ferreira, professor de neurologia e farmacologia clínica na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e diretor clínico no CNS Campus Neurológico, explica que o exercício físico tem “um enorme potencial”, não só para a doença de Parkinson, mas também para “outras doenças neurodegenerativas”. O neurologista sublinha que “existem dados científicos que provam que a atividade física atrasa a progressão destas doenças”. 

PUB

O mesmo é defendido pela organização norte-americana Parkinson Foundation que, numa página dedicada aos benefícios desta prática, aponta que “a atividade física tem mostrado melhorar muitos os sintomas de Parkinson, desde o equilíbrio e problemas de mobilidade à depressão, prisão de ventre e até às capacidades de pensamento”.

Destacam-se as melhorias reportadas ao nível da marcha e do equilíbrio, da flexibilidade e da postura e também da coordenação motora, o que contribui para uma redução de quedas e da perda de movimentos associados à doença. 

A nível cognitivo, sublinha-se ainda o impacto da atividade física na memória de trabalho, na tomada de decisão, na atenção e na concentração

“As pessoas que começam a exercitar-se mais cedo experienciam um declínio de qualidade de vida significativamente menor do que os que começam mais tarde”, lê-se no mesmo artigo informativo.

Para quem tem uma forma avançada da doença, a atividade física “mostrou maiores efeitos positivos na qualidade de vida relacionada com a saúde”.

No mesmo sentido, também a Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford refere que a prática de exercício é “tão importante como tomar os medicamentos”, uma vez que ajuda “a manter a força, a flexibilidade, o equilíbrio e a acuidade cognitiva”.

Já a Associação Americana para a Doença de Parkinson destaca que começar um plano de exercício irá “colocar o corpo numa posição mais favorável para enfrentar os efeitos da doença de Parkinson”, melhorando a função cognitiva, diminuindo o risco de depressão e de problemas de sono, reduzindo a prisão de ventre e a fadiga e atrasando o desenvolvimento de osteoporose, entre outros benefícios.

PUB

Em Portugal, a Associação Portuguesa de Doentes de Parkinson também sublinha a “importância” do exercício físico, referindo o “potencial efeito modificador na progressão da doença e na melhoria de problemas na cognição, marcha e quedas”. 

Num artigo de revisão, publicado em 2011 na revista científica Neurology, conclui-se que as evidências “sugerem que exercício físico vigoroso e contínuo poderá influenciar favoravelmente a progressão” da doença de Parkinson, ou seja, poderá retardar os efeitos. 

Estudos realizados em modelos animais revelam que a atividade física “melhora consistentemente a cognição em animais” e “aumenta a neuroplasticidade e a expressão do fator neurotrófico”.

Evidências semelhantes foram obtidas em estudos com humanos, nos quais se verificou que as pessoas com doença de Parkinson que faziam exercício físico apresentaram melhores resultados cognitivos

O autor do artigo recomenda os profissionais de saúde a encorajar os pacientes a realizarem “exercício vigoroso e continuado e condicionamento físico”.

A Parkinson’s Europe sublinha também que existem “evidências crescentes de que o exercício consegue atrasar o início de Parkinson, assim como reduzir a velocidade de progressão se for introduzida cedo”. 

Num artigo científico, publicado em 2010, foram analisadas meta-análises de estudos prospetivos e evidências epidemiológicas, demonstrando que a prática de exercício físico durante a vida adulta e sénior está relacionada com uma redução do risco de desenvolver doença de Parkinson. 

Mais recentemente, uma revisão de 2023 destaca a “importância do exercício como um método efetivo na redução do risco de desenvolvimento da doença”, promovendo também “alívio dos sintomas motores, mas também não motores” – tais como deficiências cognitivas, de julgamento ou depressão e distúrbios do sono.

Joaquim Ferreira lembra que o “tratamento padrão” para a doença de Parkinson combina os medicamentos e o exercício físico. No entanto, os pacientes tendem a começar a atividade em fases mais avançadas da doença – o que o especialista considera ser “um erro”. 

PUB

“Em Portugal, não está enraizado o hábito de as pessoas conjugarem exercício físico e medicação, nem de o médico prescrever o exercício físico”, lamenta o professor de neurologia e farmacologia clínica, sublinhando a necessidade de “educar as pessoas e os profissionais de saúde” sobre esta matéria.

Qual o exercício mais adequado?

Parkinson: Exercício físico pode prevenir e minimizar sintomas tratamento

Joaquim Ferreira explica que “o melhor tipo de exercício físico para doentes de Parkinson é o exercício aeróbico, ou seja, atividade física em que a pessoa se cansa um pouco e aumenta a frequência cardíaca”.

Além disso, atividades físicas em que o paciente tenha de fazer movimentos amplos com os braços – como, por exemplo, o boxe – e atividades que conjuguem o exercício físico com desafios cognitivos têm também mostrado bons resultados nos doentes com Parkinson. 

A Parkinson Foundation e a Associação Americana para a Doença de Parkinson destacam quatro tipos de exercícios para melhorar os sintomas motores e não motores da doença: “atividade aeróbica”, “treino de força muscular”, “equilíbrio, agilidade de treino de multitarefas” e “alongamentos”. 

A Parkinson’s Europe apresenta uma série de desportos e atividades físicas que poderão ajudar os pacientes: yoga, pilates, treino com pesos, corrida, caminhada acelerada, dança, boxe, ciclismo ou jogging são alguns exemplos.

O Centro norte-americano para o Controlo e Prevenção de Doença (CDC, na sigla inglesa) aconselha os adultos com doenças crónicas ou deficiência – nas quais se inclui a doença de Parkinson – a realizarem 150 minutos de exercício semanal (que podem estar distribuídos, por exemplo, em 30 minutos por dia, cinco dias por semana) e sublinha ainda a importância de dedicar, pelo menos, dois dias por semana a atividades de enriquecimento muscular.

PUB

LER MAIS ARTIGOS DO VIRAL:

PUB
verdade

Categorias:

Neurologia

11 Abr 2024 - 10:03

Partilhar:

PUB